Casal austríaco dá "bailinho tecnológico" na Madeira
António Larguesa - Jornal de Negócios
A Connecting Software, com sede em Viena e escritórios também na Eslováquia e nos EUA, abriu um centro tecnológico no Funchal, onde já trabalham 12 pessoas e encontrou mais do que benefícios fiscais. A Connecting Software prevê aumentar em breve a equipa no Funchal até às duas dezenas de colaboradores.
Thomas e Maria Berndorfer estavam de férias em Tenerife quando ouviram um programa na rádio sobre paraísos fiscais na Europa, em particular sobre as ilhas Canárias e a Madeira. Como o governo da Eslováquia, onde tinham instalado o primeiro centro de desenvolvimento, estava a aumentar os impostos, pesquisaram mais sobre o país e as condições fiscais para empresas no "offshore" madeirense. "Viemos ao Funchal e apaixonámo-nos por esta ilha maravilhosa", conta ao Negócios o CEO da Connecting Software.
Para além dos benefícios fiscais, que estiveram na origem da decisão de investimento tomada em 2017, o casal austríaco foi surpreendido pelo apoio local - da política à universidade - e por encontrar "um país ambicioso que se esforça por se tornar ainda melhor" e no qual "a crise económica parece ter provocado uma mudança positiva na mentalidade das pessoas". O que se esperava que fosse um mero escritório de representação com cinco pessoas, tornou-se um pólo tecnológico que já tem 12 pessoas e que deverá chegar a duas dúzias em breve.
"Começamos por trazer 'developers' [programadores] e, graças aos excelentes resultados, agora temos aqui 'software testers' e também criamos um departamento de marketing. O próximo passo é adicionar uma equipe de manutenção. Estamos convencidos sobre o potencial. E, no futuro, podemos expandir para o Brasil por causa da proximidade com os EUA e falar a mesma língua", aponta o empreendedor, que em 2007 percebeu as dificuldades das empresas ao utilizar várias aplicações incompatíveis, e montou um negócio que fornece uma plataforma e produtos para integrar e sincronizar software.
Apenas com o seu próprio investimento - "não quis comprometer a sua visão trazendo bancos ou capital de risco para a empresa", criou a operação eslovaca em Malacky por causa da vantagem fiscal, custos laborais mais baixos e a proximidade da sede em Viena; e depois abriu um escritório comercial em Denver (Colorado) para servir clientes americanos, antes de entrar no Centro Internacional de Negócios, conhecido como a Zona Franca da Madeira.
Com uma facturação anual de cerca de dois milhões de euros, o Connecting Software emprega actualmente cerca de 40 pessoas de 12 nacionalidades. Tem clientes em cem países do mundo, com um total de mil clientes dos sectores público e privado. É o caso do Ministério da Justiça e do Parlamento no Canadá, com vários serviços governamentais na Nova Zelândia ou com grandes empresas privadas, como a Securitas (segurança) ou o Grupo British Compass, que é considerado o maior fornecedor mundial de serviços alimentares.
PERGUNTAS A THOMAS BERNDORFER CEO da Connecting Software
"As greves são uma coisa incómoda"
Porque é que a Ilha da Madeira é atractiva?
Para além dos impostos mais baixos, o Connecting Software líder lista outros factores relevantes para os investidores de tecnologia e encontrados neste arquipélago.
APOIO LOCAL
Ao chegar ao Funchal, encontrou "muito apoio local": a nível político, através do gabinete de investimentos, na universidade e no aconselhamento fiscal do consultor Mad.Intax na Zona Franca.
QUALIDADE DE VIDA
"Por que trabalhar no frio do Norte [europeu] ou em áreas urbanas desenvolvidas, se eu posso viver no paraíso?" A qualidade de vida, que inclui natureza, comida ou bom tempo, consegue "atrair talentos de todo o mundo".
CONCORRÊNCIA LONGE
Para aqueles que "valorizam o baixo fluxo e parcerias de longo prazo com a equipe", é um benefício estar em uma região pequena e ter "mais influência sobre os operadores locais", enquanto em outros países eles enfrentam mais concorrência.
FUSO HORÀRIO
É nos EUA que são vendidas 40% de licenças de software. "E com o fuso horário da Madeira, você pode trabalhar com a Europa e ter horários de funcionamento sobrepondo a costa oeste e leste, o que é confortável e eficaz".
O empresário critica o governo português por "obrigar as empresas a tratar os empregados como crianças".
Como tem sido a sua experiência como investidor em Portugal? Nos EUA e na Áustria, os indivíduos assumem as suas próprias vidas. Sente-se o individualismo e a liberdade de tomar decisões. Aqui em Portugal, o pensamento antigo torna difícil o sucesso rápido. O Governo obriga as empresas a serem responsáveis por tudo o que diz respeito aos empregados e a tratá-los como crianças. Às vezes até é embaraçoso, especialmente quando se tem especialistas altamente qualificados na equipa. As greves também são uma questão incômoda, pois reduzem muito o fluxo de trabalho. Aqui as pessoas querem que alguém resolva as coisas por elas. Como investidor, eu prefiro trabalhar com aqueles que sabem o que querem e como alcançá-lo.
Qual é o maior desafio?
Até agora é a falta de conhecimento sobre a cultura. Um bom negócio requer estabilidade. Qualquer mercado, por si só, é suficientemente imprevisível, por isso é preciso ter relações sustentáveis com o Governo e com as pessoas dentro e fora da empresa. Então você pode agir como um empresário - porque você sabe o que esperar. Mas eu estou satisfeito com as condições este ano e meio. Estou grato pela abertura e por ter sido bem recebido na Madeira. Estamos felizes por estar a crescer aqui, contratando mais pessoas e pagando impostos por isso.